Invisíveis cantos.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Preparar-se em desamor

Selfie fabiana


                 


II

Meu medo, meu temor, é se disseres:
Teu verso é raro, mas inoportuno.
Como se um punhado de cerejas
A ti te fosse dado
Logo depois de haveres engolido
Um punhado maior de framboesas.
E dirias que sim, que tu me lembras.
Mas que a lembrança das coisas, das amigas
É cotidiana em ti. Que não te enganas,
Que o amor do poeta é coisa vã.

Continuarias: há o trabalho, a casa
E fidalguias
Que serão para sempre preservadas.
Se és poeta, entendes. Casa é ilha.
E o teu amor é sempre travessia.
Meu medo, meu terror, será maior
Se eu a mim mesma me disser:
Preparo-me em silêncio. Em desamor.
E hoje mesmo começo a envelhecer.

H.H.



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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Das maravilhas



Você é a criatura mais subversiva do teu país, Alice. Não falo das curvas das alças da xícaras tortas que bebe o teu chá mais amargo, nem da tua boca que carrega os filetes de dentes alinhados e coerentes e que mordem transgressoramente o pedaço de um bolo muito doce. Nem das luvas de pelica branca que usa para cuidar do teu jardim. Não é isso. Tudo isso seria muito pouco. Bico de corvo.
Você subverte logo o fio da navalha, o meio do caminho, o breu do abismo.
Você subverte a alma.





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O desconexo me elucida. Sinto um prazer de sábado quando sinto o aroma da loucura. Sei que não é fácil. Sei. Às vezes eu queria não saber e ter a benção da lucidez. No entanto eis-me aqui, forjada, leoa, musa de fogo. Ouro, olhar, branco, bracelete, unha vermelha.