Invisíveis cantos.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Primeira pessoa do plural








Eles amputaram
As tuas coxas das minhas ancas.
Tanto quanto sei
São todos cirurgiões. Todos eles.

Eles desmantelaram-nos
Um ao outro
Tanto quanto sei
São todos engenheiros. Todos eles.

Que pena. Éramos uma invenção
Tão boa e tão amável.
Um aeroplano feito de um homem e de uma mulher.
Com asas e tudo.
Pairávamos ligeiramente por cima da terra.

Até voávamos um pouco.



Yehuda Amichai

.

Ajoelha ao pé do morro



                                Marino Marini




justifica as rimas, conduz teus cascos. Se é dado galopar pisa o campo, corraluzente feito fogo na capim.
Tudo isso é só paixão, é tudo matemática e palavra. A morte não existe. O que te espera é o soco. Continua, cola tua boca na boca da Vida.
não te igualas aos que te chupam o sangue. Pássaros engaiolados no céu. À hora de Pégaso.


Lambuza de sal as patas, Égua.












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Minutos antes do afogamento



Um barco contra a maré. Fluxo interno. Memória de corredeira na pedra.
Um gosto na língua de bocas, salivas. Uma pontada de fé.
Penso de lado. Ando de lado. Carrego de lado.
Remar.
Quanto é a profundidade. Busco o sentido das águas.
Peixes que seguem cardume, mas gemem.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Do retrato II

Auto-retrato
A memória

domingo, 1 de dezembro de 2013

Resposta ao blues

Estar

Vigias desde este quarto
onde a sombra temível é a tua

Não há silêncio aqui
mas frases que evitas ouvir

Símbolos nos muros
narram a bela distância

(Não deixes que morra
sem voltar a ver-te)


Alexandra Pizarnik


Do retrato I

Dizeres de Hilda no meu ouvido
Sem identidade final de século

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Quem és?




Eu sou um pedaço de vidro sujo que se confunde com espelho onde as baratas, vez ou outra, passam. Minha pedra preciosa cabe no anel mas nem sempre no dedo. Leoa, musa de fogo. Ouro, olhar, branco, bracelete, unha vermelha. Sou um corpo mutante soprado, que é vento. Entorto a boca enquanto escrevo, fecho o vinco da testa, dissipo as tripas. Mas sonho à noite que a liberdade me toma. Beijo teu cadáver. Sou lesma que goza na pedra. Sou a pedra. Muitos dos meus cavalos já morreram mas os que vivem estão livres. Galopo a minha casa de madrugada e nem sempre bebo apesar de tanta sede. Acho esquisito ter o meu nome.




...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Autoria




Esquece a paixão, meu bem
nesses corpos embaçados
atrás de poucos relevos
e papel barato
Já tivemos um tempo
de tinteiro e penas
de papel papiro fino
Hoje a caneta sangra e a tinta
não pega mais no meu corpo
não pega mais
no meu corpo
não pega

O desejo é um livro não publicado and then it was over

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Urubu rei

Para você que me come  
e que acaba na boca de alguém.











Certa de que se vive para sentir, sempre busco quem possa comigo, à mesa,  dividir toda sorte de poemas
 - Ai que me vem à boca o gosto -
Bendito paladar louco por livros velhos, mofados e capazes, feito puta larga e frouxa mas que sabe se deitar na cama com majestade. Como por inteiro e repito ruminante os versos, a palavra mal acabada, lambo o beiço da poesia
- Ai que cai assim letra em mim -
E meus arautos são os que comem comigo, são os que, em falas saboreadas me lambuzam, não nego a passionalidade de toda essa iguaria fina.
- Ai como são doces e dramáticos -
Estes, magos reais que comem este banquete-literatura-de-Platão, arrancando as carnes. Encontrando o mel.
- Ê, rapadura! -
Capitu traiu Bentinho, salve Machado de Assis! Mesmo que dê Naúsea, tome Sartre. Pão é amor entre estranhos, dá-me um pedaço, Clarice.

Rasguem a minha garganta.

sábado, 7 de setembro de 2013

Dos bórdeis e dos conventos










Atemporais, eu e tu
entre tantas dobradiças do tempo
Inter-espaços, movediços
Atravesso
Só para te encontrar casta e pagã
entre tantos caracteres-hereges

Sem medo nenhum
do jugo do sentimento.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Eu, Ariana e Teu Nome




Em nome do amor
do fervor
e do espírito em pranto

Eu decanto
em versos arrogantes e,
- sexy -
Inteligência, amour,
é afrodisíaco.

sábado, 23 de março de 2013

Hedonê







Pois o outono assim se demora na pele
no seco dos lábios, na fome
e na boca
- como se pudéssemos morrer
tão colados
nus e insatisfeitos.


Pronto, falhei.





Prefiro o poeta pálido anti-homem que ri e que chora
Que lê Rimbaud, Verlaine, que é frágil e que te adora
Que entende o triunfo da poesia sobre o futebol
Mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol


— Thaís Gulin




Sabe, quando você sabe que nunca mais vai ver aqueles olhos tristes? Quando o tempo é uma promessa que não se cumpriu? E a felicidade está em outras canções se não àquela? É porque as falhas foram maiores que os acertos certos e, óbvios. Mas acontece mesmo, de tudo mudar quando se pisca o olho. E foi  assim que aconteceu,  pisquei.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Nêga, sinta-se feliz








Preciso do poema que não fui eu que escrevi, da flor que não plantei e da areia que ainda não pisei. Preciso da chuva que ainda não precipitou e da lágrima do amor que já passou. Tenho saudades que doem dentro de mim do que não aconteceu. Tenho abismos que estruturam a minha torre de Pizza, torta, inteira. Tenho sede de água de cachoeira. Da música que me faz subir de oitava. Essas coisas. Outras coisas.


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Prelúdios de um espaço



Amor arte conceito nada comida

tempo MÚSICA LOLove modeamor

fevereiro prosa verso poema ÁGUAS

realizei tv vsf VIDA tododia o infinito

nãoacaba

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Noviciado


Teu corpo é braile para os meu dedos
alucinados perturbados perdidos
que só quando vêem a tulipa
- sem dar conta de onde e como memória -
Tocam.

Distopia





Morde e não assopra.
Procuro amor para motim
sentimentos baratos, anárquicos
revolução emocional, mais.
Sexo catártico
Lambe leva venera
como quem come pela primeira vez
o prato predileto eleito
Feito
navalha
afiada
Libertária contida entre lábios.
Você que não se importa
com os vícios dos meus dedos,
morde.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Chamamento






Ela tem o poder do fogo, com suas mãos desenha a magia exata no ar.
Para depois cair em Prece.
Tenta buscar o pensamento e, encontra, o verso certo para aquela floresta antiga.
Crê, lê, não vê. Não porque não pode mas porque não quer ferir.
Coloca flores nos cabelos e anéis nos dedos.
Rodopia.
O fogo não mente.

...




Bombas limpas, disseram? E tu sorris
E eu também. E já nos vemos mortos
Um verniz sobre o corpo, limpos, estáticos,
Mais mortos do que limpos, exato
Nosso corpo de vidro, rígido
À mercê dos teus atos, homem político.
Bombas limpas sobre a carne antiga.
Vitral esplendente e agudo sobre a tarde.
E nós na tarde repensamos mudos
A limpeza fatal sobre nossas cabeças
E tua sábia eloqüência, homens-hienas

Dirigentes do mundo.


Hilda Hist (Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974)
- Poemas aos Homens do nosso Tempo - XIV)

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O desconexo me elucida. Sinto um prazer de sábado quando sinto o aroma da loucura. Sei que não é fácil. Sei. Às vezes eu queria não saber e ter a benção da lucidez. No entanto eis-me aqui, forjada, leoa, musa de fogo. Ouro, olhar, branco, bracelete, unha vermelha.