Invisíveis cantos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ver melho[r]


''(...)Talvez vocês esperem que eu lamente 'o quanto se sofre' vivendo com um homem como Diego. Mas não creio que as margens sofram por deixar o rio correr, ou a terra por causa da chuva, (..) em minha opnião, tudo tem uma compensação mútua. Meu papel difícil e obscuro, de ser alíada de um ser extraordinário, tem a mesma recompensa de um ponto verde numa grande quantidade de vermelho: uma recompensa equilibrada. A dor e a felicidade que dominam a vida, nesta sociedade realmente pobre em que vivo, não são minhas. Quando sou parcial e os atos dos outros me ferem, inclusive os de Diego Rivera, responsabilizo-me por minha incapacidade de ver com clareza; mas, se não for (parcial), terei de admitir que é natural que as células vermelhas do sangue combatam as brancas sem nenhuma consideração, e que este processo traduz-se simplesmente em saúde."

Frida Kahlo, em Retrato de Diego.




É, eu sei. Glória estranha do corpo. Mas, é glória.
Xiu, Frida, que você sabe vermelho demais. 

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sou livre



A minha confissão hoje é um agradecimento.
Quero muito agradecer aos meus pais pela forma como me criaram, de como me ensinaram a tocar os dedos longos do mundo com minhas mãos pequenas. Hoje senti muito orgulho do que Sou. Eu me orgulho pela minha incorruptividade, pela minha lealdade, pela meu equilibrio baseado em forte base emocional, pelos meus princípios, pelo que consigo doar e pelo que consigo receber, pelas trocas e aprendizados, pela sustentabilidade dos meus atos, das minhas palavras, pelos reconhecimentos dos meus erros, pela alegria dos meus acertos. Por me ensinarem a rezar, por me tirarem a venda, por me dizerem os 'nãos' mais fortes em Amor que existe, por dizerem ' sim, vai, minha filha, sim'. Por enfrentar o medo do escuro. Por eu saber voltar atrás, por subir andar pra frente, por entender perdão, por sentir-valor não só o corpo mas tocar Coração.

Obrigada.



Aos meus pais.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O primeiro lírio



Vou falar de mim. Sou antiga. E é preciso que se saiba que quando eu falar serão palavras lentas e inteiras. Nasci sabendo do meu caminho útero-âmnion-ânima. Tomei goles do líquido antes do fôlego inicial. Chovia e o hospital estava sem luz, geradores não conseguiram manter por muito tempo o controle vital para se ver. Têm coisas que só se captam no breu, pois escapam à luz, talvez seja por isso que escapulo e consigo vagar por campos distantes, os de dentro. É necessária a cegueira para se ver lírios. De lírios. Nasci com o rosto nu e à luz de velas. Logo, as velas chegaram em minha vida antiga. Tal qual a Taverna para Azevedo. Chovia muito e as águas amendontraram minha mãe. Talvez seja por isso que o mar aberto me amedontra tanto. Água funda e parada me congela o sangue em medo. Confidências. Eu vejo o que está ao fundo rocha-vulcânica, o núcleo neutro de onde está o húmus. Os campos necessitam de águas. Nasci na tempestade entendendo que as paradas cardios respiratórias de minha mãe me levariam ao sopro. Sopro palavra que descubro enfim, na respiração das falas, que hoje desde sempre, me salvam. Entendi-me humana nesse ponto. E entendi-me nos campos. Alheios de tão meus. Certa feita fiz um estudo astral e disseram meu umbigo ser oito, o número. Logo pensei no infinito mas era sofrimento, o materno. Um lírio para minha mãe. Sem surpresas, segui. Sempre esquiva, por saber sentir. Sensibilidade num mundo bruto é peso. Lírios que se penduram nas pedras de cachoeiras escapulam peso de pedreira. Meu olhar fecha e abre sem ser o piscar dos olhos, e sim silêncio.  Risos. Meu silêncio é abusado, ele ri, brinca e até o meu irritável é querido. Gostam de mim. Fato. Gostam. A insuportável adorável, paradoxalmente. A insuportabilidade vem do fechar e abrir nos intervalos da vida, intervalos que podem durar meses tanto quanto podem durar fragmentos de segundos. Mas são perceptíveis. Incomodam e apaixonam, não respectivamente. Os lírios. Um ou outro, raros os dois. Mas amizade é rara e isso me deixa comovida. Cresci sorrindo e sabendo a mais do esconde-esconde e mãe-da-rua, adolesci mundo, o dos Anjos, Poe, Pessoa, Clarice, Cecília, poesia. Então foi aí. [pausa]. A Poesia. Foi através da Poesia que entendi por onde meu intervalo do abrir fechar vagava campos. Descobri-me olho nos campos nus e percebi porque incomodava e porque apaixonava pessoas. Era o nu dos campos alheios que consigo vagar. Os campos delicados, os peitos nus. Lírios e levezas no peito meu. Sensibilidade peso. Fresta de rochedo, terra, aberta em mim. O meu atalho. Peso. Existe a raiva, é o preço, de perceberem pés descalços colhedores em teus campos sacros dolores escuros, inférteis. Estes que eu, os da minha espécie adentram. É inevitável. Mas nos campos fechados também existem  árvores com sombras frescas. Pertenço enfim, dentro da minha condição humana.

Sou uma antiga camponesa colhedora de lírios.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Malabares

 




Curvas de lábios, testas. Queixos que tremem, enquanto unhas incríveis em arabescos suplicam. Desbobram. Braceletes em ouro. Prata. Dores bronze. Saltos em torno das mesas, fartas. Alongam-se filhos músculos, ácido nucléico. Leito. Resistência ao macho, partes de baixo. Calam-se colos. Pódios. Exaustas e plenas helenas, como quem malabares para ver Deus. 

Mulheres.

domingo, 7 de março de 2010

A pêlo

"ninguém enriquece com a literatura se ao mesmo tempo não for capaz de chupar um pêssego aproveitando a mão livre para levá-lo a boca, se não fizer amor entre duas páginas, se não se debruçar na janela para saber que durante o último mês cinqüenta crianças morreram queimadas na região se Saigon, e que em Biafra os nigerianos ajudados pelo nobilíssimo Reino Unido degolaram todos os pacientes de um hospital; será preciso repetir, professor Papalino Zeta, que a literatura não é um terreno privilegiado no sentido escapista que tanto convém e adorna? Biafra e o erotismo, a chuva de napalm e os Jogos Venezianos de Lutoslawski: a poesia continua sendo a melhor possibilidade humana de realizar um encontro que ninguém descreveu melhor que Lautréamont e que pode fazer do homem o laboratório central de onde algum dia sairá o definitivamente humano, a menos que antes disso todos nós tenhamos ido para a casa do caralho."

Notícias do mês de maio, Julio Cortázar








Continuo sendo estranha, esquiva. Mas assim é melhor. Não ser linear sendo, dentro das pequenas possibilidades humanas. [ pausa] Eu não consigo explicar [ /pausa].  Lamba minhas partes, oh cachorro.
Os números entre parênteses a fim de cada ponto indicam os vórtices de onde extraí as entrelinhas do meu texto tentando me explicar em sílabas tortas [Pórtico]. Meu mais doce nosce te ipsum. Enquanto Cortázar me manda dormir, sabendo que sou [só]. Sonho.

Yeah, c'mon

 


Ele me música.



The face in the mirror won't stop
The girl in the window won't drop





Diz posição



Há que se ter. Posição é importante. O que se diz também. Nem sempre
estamos dispostos para o Amor. Não é só Corpo que falo, é de postura,
d'alma [carpideira portuguesa mulheres de atenas].
Mirem-se
Ex templos
Não se ajoelhar nem tão pouco implorar. Implosão. Mas se dobrar e se
encantar nos poros. Chão.
Viver em posição correta. Amar com a espinha ereta. As evoluções do
teu alívio, debruçadas em meu sufoco frio. Sou oca se não tenho em mim
tuas partes postas no tamanho exato do meu dizer.
Diz
posição.


Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
(Fagulhas – Ana C.)

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O desconexo me elucida. Sinto um prazer de sábado quando sinto o aroma da loucura. Sei que não é fácil. Sei. Às vezes eu queria não saber e ter a benção da lucidez. No entanto eis-me aqui, forjada, leoa, musa de fogo. Ouro, olhar, branco, bracelete, unha vermelha.