Invisíveis cantos.

domingo, 19 de outubro de 2014

Desvendar

Quando eu morava no cimento
andava sem perceber os passos
com a sensação certeira e púgil
de que precisava correr e fugir

Quando eu pertencia ao concreto
em meu peito apertado (sem espaço)
vivia um pássaro acorrentado
e protegido por airbags importados

Só entendia o que vinha dentro de caixas
hermeticamente embaladas por mãos escravizadas

Quando eu bebia na cidade
os vinhos mais encorpados e secos
da minha boca escorriam sonhos
dentro de uma sede infinita e atéia

Quando eu dormia dentro da parede
acampava dentro da matrix escura
sem estrelas cadentes, nem naves estelares
caminhar atávico e frio, cadeados

Só dormia por dormir
para derreter a gordura da carne e das entranhas

Quando cheguei o sol ardia os olhos
mas não impediu que  eu enxergasse
a minha sombra que me batia à porta da vida
de uma maneira irreversível

Só assim no meio das árvores
compreendi o mais iluminado dos meus dias
em uma espécie de dança nativa
muito antes do muro de Berlin ter escorregado no som do tambor


Que só vivo para esperar a lua aparecer cheia no céu do peito
divinizando o esquecido do corpo.
( ainda há tempo de respirar)



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O desconexo me elucida. Sinto um prazer de sábado quando sinto o aroma da loucura. Sei que não é fácil. Sei. Às vezes eu queria não saber e ter a benção da lucidez. No entanto eis-me aqui, forjada, leoa, musa de fogo. Ouro, olhar, branco, bracelete, unha vermelha.