Quando eu morava no cimento
andava sem perceber os passos
com a sensação certeira e púgil
de que precisava correr e fugir
Quando eu pertencia ao concreto
em meu peito apertado (sem espaço)
vivia um pássaro acorrentado
e protegido por airbags importados
Só entendia o que vinha dentro de caixas
hermeticamente embaladas por mãos escravizadas
Quando eu bebia na cidade
os vinhos mais encorpados e secos
da minha boca escorriam sonhos
dentro de uma sede infinita e atéia
Quando eu dormia dentro da parede
acampava dentro da matrix escura
sem estrelas cadentes, nem naves estelares
caminhar atávico e frio, cadeados
Só dormia por dormir
para derreter a gordura da carne e das entranhas
Quando cheguei o sol ardia os olhos
mas não impediu que eu enxergasse
a minha sombra que me batia à porta da vida
de uma maneira irreversível
Só assim no meio das árvores
compreendi o mais iluminado dos meus dias
em uma espécie de dança nativa
muito antes do muro de Berlin ter escorregado no som do tambor
Que só vivo para esperar a lua aparecer cheia no céu do peito
divinizando o esquecido do corpo.
( ainda há tempo de respirar)
.
Invisíveis cantos.
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Quem sou eu
- Fabiana
- O desconexo me elucida. Sinto um prazer de sábado quando sinto o aroma da loucura. Sei que não é fácil. Sei. Às vezes eu queria não saber e ter a benção da lucidez. No entanto eis-me aqui, forjada, leoa, musa de fogo. Ouro, olhar, branco, bracelete, unha vermelha.
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